O Alentejo é agora uma região que
começa a captar o interesse de turistas de todo o mundo, ao mesmo tempo que vê
o mercado nacional a interessar-se pela tranquilidade das paisagens a perder de
vista e pela capacidade de bem acolher os forasteiros, que tão bem caracteriza
o povo desta região.
No Dia Mundial do Turismo, fomos
conversar com Paula Mira, arquitecta de profissão e uma das maiores
impulsionadoras do agro-turismo Xistos que abriu portas em Março passado e que
fica localizado em plena Herdade Monte da Ponte (há mais de um século na família),
junto à Ribeira de Terges e Cobres, a vinte quilómetros de Beja e a trinta
quilómetros de Mértola.
Embora muito recente, o projecto
já recebeu o galardão internacional Green Key. O turismo rural Xistos é um
sítio que nos obriga a desligar do reboliço da cidade e a valorizar um
arrepiante por do sol que ao longe namora com as searas!
Nos Xistos a nossa sensibilidade
é posta à prova perante uma natureza desarmante!
Aliada às paisagens e a uma
verdadeira incursão pela biosfera, “os amigos dos Xistos” – forma carinhosa de
tratar os clientes - têm ainda à sua espera Paula Mira, uma mulher apaixonada
pela terra que a viu crescer. Uma paixão que quer agora dividir com todos!
Xistos são vida! Xistos são momentos!
. Fale-nos sobre a história deste
espaço e sobre esta vontade de transformar um sítio predominantemente
vocacionado para a agricultura e pecuária, num espaço turístico em meio rural…
Ao olhar para este território
compreendi que ele poderia ser um destino turístico. Estamos num território
entre Beja e Mértola, onde o montado de azinho é bastante presente e onde o
pastoreio em extensivo é uma marca que a minha família sempre trabalhou,
sobretudo o meu pai, que sempre foi produtor de carne alentejana. O meu pai foi
um acérrimo defensor das espécies autóctones e educou-me nesse sentido, no
sentido de acreditar nas potencialidades do território.
. Esta herdade está na vossa
família há quantas gerações?
Há quase cem anos. O projecto de
agro- turismo dos Xistos só existe porque temos esta natureza envolvente! Estou
a referir-me à paisagem, ao bosque e à ribeira de Terges e Cobres. A minha
ideia inicial prende-se com a necessidade de partilhar com o mundo esta beleza
natural, o que só foi possível concretizar através da abertura deste espaço de turismo
rural.
. A Paula Mira é arquitecta de
formação. Pode falar-nos sobre a solução desenhada para o projecto dos Xistos?
Pretendi que a arquitectura fosse
insignificante perante a natureza que nos rodeia. Compreendemos facilmente que
existem três paredes brancas mais altas que rodeiam o telhado e a utilização de
telhas, num profundo abraço simbólico ao Alentejo. Além disso existe uma parede
em xisto bastante notória, quando se entra, e que liga a casinha de telhado
tradicional a um outro bloco de laje direita que representa o modernismo.
Podemos sempre ser felizes se conjugarmos a tradição e a actualidade. O mesmo
acontece com a decoração, marcada pela existência de objectos de família muito
antigos e que ficaram guardados em baús. Estou a referir-me, por exemplo, a
esta tropeça onde era feita a matança do porco, das peneiras, da queijeira, da
mesinha de cabeceira da Tia Aninhas, do baú que ia a caminho do Algarve nas
férias no carro de mulas, entre muitos outros objectos recuperados que convivem
com outros tantos adquiridos em lojas modernas e que surgem contextualizados no
espaço.
. Qual é a capacidade de
alojamento?
Quando estamos lotados podemos
chegar às 18 pessoas.
. Qual é o perfil dos turistas
que vos visitam?
Este espaço físico não é nenhum
hotel, é a casa de campo de quem nos visita! São os nossos amigos, os amigos
dos Xistos!
. E as pessoas de Beja conhecem
os Xistos?
Esse é um dos nossos grandes
desafios, cativar os turistas de Beja. São tão acarinhados como os que chegam
de longe, pois este é um espaço para todos! O turista de cá não precisa de
dormir para poder usufruir do passeio, do céu, do bosque…
. Quando os clientes (ou os
amigos dos Xistos) aqui chegam, é fácil pedir-lhes para desligarem o botão que
os ligam ao reboliço da cidade para os conectar com as maravilhas da paisagem?
Normalmente é instantâneo. Quando
chegam ao final da tarde, mesmo antes de me apresentar, peço-lhes para que
larguem as malas e que venham assistir ao magnífico pôr do sol. A seguir são
eles que me perguntam qual é a próxima experiência transcendental (risos).Os
Xistos oferecem a quem visita experiências de turismo de natureza difíceis de
repetir noutros locais. O bosque é um espaço imperdível… O bosque é um espaço
genuíno, numa zona onde não há agricultura. Há ali uma espécie de micro clima
especial, onde é agradável estar mesmo com temperaturas acima dos 40 graus.
Levamos um chá fresco, histórias para partilhar e podemos ficar apenas a
contemplar a natureza. O bosque é uma das nossas moletas para assegurar a
actividade ao longo de todo o ano. Dependendo da época em que estamos é
possível realizar a apanha da murta (planta aromática de médio porte),
visualizar e identificar cogumelos, apanhar sementes na primavera ou ouvir os
pássaros de inverno… As famílias também gostam de calçar as botas de borracha e
ir plantar espécies. Xistos é a vida. Xistos são momentos e experiências!
. A herdade é atravessada pela
ribeira de Terges e Cobres, também ela com um enorme potencial para o turismo
de natureza. O que está a ser feito nesta área?
Xistos oferece biodiversidade.
Aqui há uma biodiversidade muito grande, tanto ao nível de animais selvagens,
insectos, repteis, plantas, fungos, estrelas, céu e por aí fora… Estamos a ser
confrontados com a necessidade de trabalhar estas novas ofertas, mas será para
toda a gente e não apenas para o turista dinamarquês que paga o alojamento!
. Que outras experiências
oferecem a quem vos visita?
A nossa ideia passa por alavancar
outras empresas com actividades distintas e que ajudem a criar momentos em
turismo de em espaço rural. Neste clima de parcerias, disponibilizamos momentos
de turismo em espaço rural, aulas de yoga, BTT, passeios de balão, workshops de
mantas alentejanas, disponibilizamos gastronomia, existindo também a
possibilidade de serem feitas massagens com óleos essenciais. Mas também
proporcionamos workshops de germinação e estacaria, onde ensinamos a apanhar a
semente, a fazê-la germinar e depois como fazer a estacaria.
Mal abrimos as nossas portas
fomos distinguidos com o galardão Green Key que visa premiar as boas práticas
ambientais, capazes de reduzir os impactos negativos do turismo e os custos com
o consumo de recursos naturais. Este galardão surge devido à nossa vontade em
adoptar práticas que ajudem a reduzir os consumos de energia, mas também por todo
o respeito que temos pela natureza.