segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A Palavra a João Casaca

 

–“ Há 2 anos nunca pensaria ser possível chegar aqui. Isto porque este mundo da tecnologia, ainda faz confusão a muita gente.” – Afirmação feita pelo João em Novembro de 2019, no âmbito da sua participação na Lisboa Games Week 2019.

Quer fundamentar-nos esta afirmação?

Temos tido um caminho muito longo a percorrer, sentimos diariamente as dificuldades do que é estarmos sediados aqui no interior, mas, ao fim ao cabo, também dispomos de muita coisa positiva, uma qualidade de vida fantástica, uma pacatez ímpar… que são factores que também nos ajudam a desenvolver com mais qualidade estes projectos onde estamos inseridos. Há dois anos nunca pensámos chegar até aqui, a GeekCase eSports nasce de uma ideias de amigos que nutriam entre si o gosto pelos videojogos. Partiu também da ideia de outras pessoas que nutriam igual paixão, mas que não o faziam em termos de projecto, uma vez que, na altura, os videojogos funcionavam na nossa vida apenas como hobby. O facto de estarmos ligados à tecnologia e termos por trás uma empresa como a GeeKCase Sistemas Informáticos, levou a que conseguíssemos complementar a ideia da GeekCase eSports com a própria GeekCase Sistemas Informáticos.

  – A GeekCase eSports tem feito um caminho meritório e tem já reconhecimento internacional. Para aqui chegar há um longo caminho de empenho pessoal e profissional e muito espírito de sacrifício.

Sendo uma empresa sediada numa pequena cidade de interior, considera que o caminho poderia ter sido diferente se desenvolvesse a sua actividade numa grande cidade, ou pelo contrário, a pacatez e a tranquilidade da região são propícias ao desenvolvimento intelectual e criativo requeridos para alavancar o seu projecto?

A GeekCase é uma empresa cujo core business se centra nos sistemas de informação, trabalhamos todos os dias com tecnologia, estamos preparados para inovar e temos crescido muito nos últimos tempos. Tudo isto tem sido fruto de uma equipa que trabalha com muito esforço, com muita ambição, com muita motivação… tendo nós juntado todos estes valores ao projecto da GeekCase eSports. Esta última funciona como uma representação da primeira, mas envolvendo os videojogos. E não só, tudo isto passa por uma área educacional, podendo eu falar-vos de um projecto que temos agora entre Portugal e Brasil, e que surgiu através de um outro projecto que fechámos recentemente com o lançamento de um livro intitulado “Manual de Sobrevivência para Pais da Geração Gamer” (que já se encontra à venda através da GeekCase e no Brasil), cuja autora se chama Teresa Rodrigues e é mãe de um jogador de League of Legends conhecido na cine brasileira e também a nível mundial.  Juntando tudo, considerámos ser interessante colocar a GeekCase eSports num patamar diferente.

É muito gratificante para nós o facto de estarmos no Alentejo, porque actualmente, a nível nacional, somos a única organização do interior que está ao nível do topo de outras organizações que detêm uma estrutura mais sólida do que nós, com pouco mais de 2 anos de existência. Temos um longo caminho a percorrer e temo-lo feito com muito esforço, com muito tempo de dedicação ao projecto e chegar onde chegámos é um grande orgulho e permite-nos pensar no futuro, ambicionando que este projecto cresça e nos traga muitas mais valias.

Podemos afirmar que o estar sediado aqui no Alentejo é uma mais-valia para nós, pela qualidade de vida de que dispomos, o que é uma vantagem face às grandes metrópoles. Aqui temos, como é costume dizer, mais tempo para as coisas, cozinhamos as coisas, preparamos as coisas de uma maneira diferente. Quando nos deslocamos, por representação, a nível nacional e dizemos que somos do Alentejo, as pessoas identificam-se connosco, com a nossa humildade, com a nossa forma de estar na vida, com a nossa pacatez, com a nossa “lentidão” (no bom sentido) e isto demonstra que o estarmos inseridos no panorama nacional, sendo oriundos do Alentejo, nos permite ser mais acarinhados. Recordo que até nas nossas camisolas, em todo merchandising e em grande parte das publicações que fazemos, levamos o Alentejo connosco. Para nós é um orgulho, ou não fossemos nós alentejanos, termos decidido investir nesta região, apesar de todas as dificuldades. E as coisas tem-nos corrido bem, porque trabalhamos diariamente para isso.

A GeekCase e Sports começou pequenina, pela junção de dois amigos, eu como CEO e Founder e o Alexandre Brás, que passou como estagiário pela GeekCase Sistemas Informáticos (e quero aqui ressalvar que gostamos de envolver os colaboradores dessa empresa neste outro projecto). As coisas correram-nos bem, muito pelo mérito de um jogado de FIFA (de um para um) que esteve inicialmente connosco e que obteve excelentes resultados, tendo-nos permitido o reconhecimento nacional. Após um ano e meio, temos três modalidades: League of Legends, FIFA e CS Go, tanto na vertente um para um, como na vertente Pro Clubs (uma vertente que no FIFA é jogada de onze jogadores para onze jogadores).
As coisas foram acontecendo naturalmente e as pessoas que chegaram e que se identificaram com o projecto foram também obtendo resultados, sempre passando uma mensagem de humildade e de que tornar o impossível possível, sendo que isso depende exclusivamente de nós.
Já conseguimos alguns patrocinadores que nos ajudam com equipamentos e outros serviços importantes como deslocações e alojamento para os jogadores e, recentemente, fechámos um sponsor oficial que é a World of Gamer, que fabrica e vende produtos de gaming ao cliente final.

– Entrando concretamente na área dos eSports e no que representam, voltamos a citá-lo, quando diz que  “numa era fortemente marcada pelos videojogos, a indústria dos eSports já fatura atualmente mais do que a música e o cinema juntos. É impossível ficar indiferente a este tema, que para muitos ainda é um mistério.”

De facto, o mistério adensa-se. Quer desvendar-nos um pouco do mistério?

Falando um pouco mais sobre eSports, sendo o significado da palavra desportos eletrónicos, aquilo que eu sinto enquanto CEO da organizão, (sendo que a nível nacional já existem organizações que se transformaram em empresas), é que o público não sabe o que são os eSports. Questionam-me muitas vezes sobre aquilo que fazemos e o porquê de o fazermos, sentindo, eu, que existe uma grande falta de informação sobre esta industria. Talvez porque Portugal não está, ainda, ao nível de outros países onde os eSports já estão vinculados. Como exemplo posso falar na Coreia, país onde os eSports rendem muito e representam um valor muito elevado, sendo um desporto que se tornou mais visto do que o futebol mundial.
Há um longo a caminho a percorrer a nível de informação, e é necessário que se consiga fazer chegar com clareza às pessoas, de forma a desmistificar, a força dos eSports enquanto actividade e até mesmo empresarialmente.
Portugal tem crescido muito, há cada vez mais jogadores nacionais. Para se ter uma ideia, na vertente FIFA nós temos dos melhores jogadores do mundo, um dos 8 jogadores do top mundial é português. Curiosamente existem jogadores de futebol que viram nos eSports uma oportunidade empresarial e que montaram empresas onde têm outros jogadores com a mesma paixão a jogar.
Já existem em Portugal grandes eventos nesta área, a Lisboa Games Week realizada na FIL (onde estivemos) e a Moche XL: Universo do Gaming no ALtice Arena. São eventos que mobilizam milhares de pessoas, também na vertente educativa, porque os eSports são mais do que um jogo. Toda a componente que os envolve permite que um jogador competitivo desenvolva muito mais rapidamente áreas como a criatividade, o raciocínio lógico, a psicomotricidade que é algo bastante importante, o inglês, a matemática…
Em suma, os eSports são ainda um mistério, porque a sociedade não consegui ainda perceber a magnitude e amplitude desta indústria. Como nota, a nível mundial, os eSports facturam mais do que a junção do cinema e da música.

 – Fala-se muito em hubs tecnológicos, nomeadamente na zona de Braga e Porto, que têm tido uma forte aposta por parte de start ups. Contudo, é evidente que quem quer empreender na área da tecnologia não tem necessariamente que se fixar nessas zonas, sendo possível trabalhar, por exemplo, no Alentejo.

Na sua óptica, esses hubs têm tendência a fixar-se em determinadas regiões por algum motivo especial, ou é possível alargar a sua implantação a outras zonas do país? Quais as condições, que em seu entender, são fundamentais para a sua criação e fixação?


Podemos dizer que, em termos de hubs tecnológicos, as start ups, ou aquelas empresas que desenvolvem grandes projectos, terão sempre como mais valia o factor localização. Situam-se, por norma, em grandes metrópoles como Porto, Braga e Lisboa. Não quer dizer que essa seja uma condição obrigatória, mas a grande massa populacional é também sinónimo de uma maior abrangência de mercado, fazendo, desse modo, todo o sentido que estas empresas se situem nestas localizações.
Existem sempre características que o Alentejo tem e que não existem nas grandes cidades, como sejam a tranquilidade, ausência de stress, qualidade de vida… que acabam por criar condições de excelência para o desenvolvimento de projectos. Não é por acaso que os grandes empresários procuram o Alentejo como retiro de descanso e de inspiração. Aqui as coisas acontecem de uma outra forma.
Quer-me parecer que a fixação de start ups passa muito por, em outros pontos do país, existir o factor indústria, praticamente inexistente no Alentejo, e que é um ponto importante para a interpretação do poder do cliente. Aqui tudo passa por pequenas e médias empresas, até 10 ou no máximo 20 colaboradores, e este é o nosso cliente tipo. Logicamente, que sendo este um ponto fulcral para o desenvolvimento do negócio, as start ups tenham todo o interesse em se fixarem em meios urbanos de maior dimensão e de maior desenvolvimento, uma vez que lá lhes é permitido abranger um mercado mais amplo, permitindo-lhes também valorizar muito mais os seus projectos.
No entanto nós optámos por nos fixar aqui, com todos os seus prós e os seus contras. A nível de formação de novos profissionais, estamos bastante bem servidos com o IPBeja, instituição de ensino meritória no meu entender, que tem formado profissionais bastante aptos e competentes que estão neste momento a trabalhar em vários pontos do país, o que nos falta é investimento e criação de empresas, que não acontece, exatamente, porque se sente que o mercado está muito pouco desenvolvido. Por outro lado, o apoio às empresas é bastante reduzido, e nós sentimo-lo. Um empresário por contra própria terá sempre que fazer por si, terá que ser obrigatoriamente inovador, tem que ir à procura e tem que ser diferenciador. Isso é o que lhe vai permitir sobreviver. Ao nível da inovação temos feito várias novas apostas, como a criação de novas aplicações, marketing digital, ter o cuidado de passar uma mensagem diferente, por forma a chegar de forma diferente e construtiva às pessoas.
Aqui no Alentejo, como é meu costume dizer, o empresário por conta própria é um empresário guerreiro, porque é ele que tem que fazer acontecer, tem que conseguir perceber quais são as melhores estratégias e adequá-las à realidade da zona, tem que ir ao encontro dos seus clientes e tem que trabalhar o dobro, muitas vezes o triplo, para conseguir resultados que, numa grande cidade, se conseguiriam muito mais facilmente.

 

 – O Baixo-Alentejo depara-se com uma enorme falta de investimento com vista ao seu desenvolvimento, apesar de reunir condições ímpares para que tal seja uma realidade. Uma grande parte desse investimento terá forçosamente que ter origem na actividade privada.

Vê com bons olhos a entrada de startups de várias áreas na região do Alentejo?

 Se lhe fosse pedido que falasse para uma plateia, sobre as mais valias da implementação de uma startup na região de Beja,  para que convencesse essa mesma plateia a investir, quais seriam os seus argumentos?

 O facto de nós termos feito a nossa aposta no Alentejo, leva-nos a dizer que nos sentimos bem aqui, e aqui, a nossa empresa é também a nossa casa. 

Uma das razões, talvez a principal, pela qual considero que uma startup se deve sediar no Alentejo, é o facto de existir um grande nicho de mercado inexplorado. É por nós sentido, diariamente, que a tecnologia utilizada pelas nossas empresas está ainda muito aquém da tecnologia utilizada nas grandes empresas. Existe muito trabalho a fazer, muito desenvolvimento ainda por conseguir, pelo que uma startup que se fixe agora no Alentejo e consiga abranger o mercado de forma diferenciadora, ajudando, a nível tecnológico, estas empresas a crescer a todos os níveis (falo, até na formação de colaboradores, que é uma lacuna perfeitamente visível; ou na dificuldade da aceitação da tecnologia como veículo de desenvolvimento de negócios), terá sucesso garantido. Será, obviamente necessário, que esta star up seja capaz de mostrar que veio para ajudar, que a sua existência se deve à necessidade que existe em auxiliar o crescimento e o desenvolvimento dos seus clientes, de forma transparente e diferenciadora, passando a mensagem de que a tecnologia pode facilitar em muito as nossas tarefas diárias, reduzir tempos, ter um maior alcance, atingir outras metas não atingidas até ao momento. Não menos importante será a vertente humana, bastante valorizada por nós, que nos consideramos um povo afável, de braços abertos e que gosta de bem receber, uma vez que tecnologia sem valores humanos, característica que se tem ou não se ensina, jamais marcará a diferença.

 

 – “Alentejo … um abraço que nos une, um sorriso que ilumina, um sonho a realizar …”.

 


O Alentejo tem características peculiares. As pessoas, além de muito calorosas, recebem de uma forma que não se vê em mais lado nenhum. Quando se diz “um abraço que nos une”, em termos empresariais, penso de imediato na entreajuda, que é muitas vezes a base das boas parcerias e da própria sobrevivência. 

Este abraço será, não só, o abraço que nos acolhe, mas também aquele que damos uns aos outros, e também a quem nos chega de fora, para que juntos consigamos colocar o Alentejo no panorama nacional.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A Palavra ao Presidente da Câmara Municipal de Beja - Dr. Paulo Arsénio

 – Faz dois anos que tivemos o privilégio de contar com a entrevista do Sr.Presidente na nossa revista Imobinvest, privilégio esse que nos é concedido de novo e que desde já agradecemos.

Dois anos e uns meses é também o espaço temporal deste mandato que vai a meio, e em que algumas alterações se verificaram no Concelho.

Do ponto de vista económico quer salientar os aspectos mais importantes que directa ou indirectamente poderão estar ligados a alguma forma de progressão entretanto verificada?

 

Salientamos que na Zona de Acolhimento Empresarial Norte se está em fase de infraestruturação dos lotes, e que já se avançou para uma segunda fase (com empreitada de infraestruturação ainda por lançar), permitindo a instalação de mais de duas dezenas de unidades industriais e comerciais em Beja. Temos também alienado lotes industriais noutras zonas da cidade de Beja para atividades especificas (Ex: Hospital Particular; Hospital Veterinário, etc.)  

O Município possui um gabinete específico para acolhimento e estudo de novos projectos a implementar por particulares no nosso território.

Qual é o feed-back que lhe é dado por parte desses investidores quanto à viabilidade de poderem instalar-se no Concelho?

Surgem projetos de várias caraterísticas no Gabinete de Apoio ao Investidor (GAI) da CM Beja. A maioria dos quais na área agrícola. Feita a análise dos mesmo, constata-se que alguns têm bases sólidas para prosseguir e que outros ainda precisam de ser trabalhados para poderem instalar-se na área do Concelho;     

 – Sabemos que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que toda tramitação processual e burocrática relativa à instalação de uma empresa, seja ela qual for, demora algum tempo. Por outro lado temos conhecimento de que existem em curso alguns projectos interessantes a aguardar finalização.

Quer falar-nos sobre este aspecto?

A tramitação para abertura de uma empresa pode ser longa e morosa até à sua instalação. Desde logo porque é necessário – no caso dos lotes vendidos pela CM Beja – aguardar pela infraestruturação dos mesmos.  Muitas vezes as empresas também procuram financiamento para a implementação das suas ideias.

Em Beja neste momento de unidades novas que se podem prever, temos por exemplo uma fábrica de massas frescas e uma fábrica de cerveja em perspetiva. Isto no que concerne ao setor secundário.     

 

Encontrando-se o Concelho numa região essencialmente agrícola, lógico seria que existissem mais unidades agro-industriais, além das adegas e dos lagares.

Qual é na sua opinião o motivo pelo qual essas unidades não têm optado por Beja?

Estão a começar a optar. A Vila Galé terá até ao inicio do verão já uma unidade com essas caraterísticas em pleno funcionamento, dedicada à transformação das frutas da unidade em compotas, em produção de fruta desidratada e em embalamento de fruta.

Mais unidades deste tipo virão necessariamente para a região no futuro próximo. Creio que se está a ganhar a noção que é uma mais-valia transformar perto do lugar de produção. E depois da transformação agrícola do território que se deu por via de Alqueva, esse será o próximo passo a concretizar-se. Estabelecer no território as PME criadoras de emprego.       

 

O Concelho de Beja goza de uma localização geográfica privilegiada, que, sendo potenciada, permite que faça parte de um eixo norte-sul e este-oeste de bastante importância.

Sabemos que o Município tem insistido com a Administração Central no sentido de melhorar as acessibilidades, determinantes para o desenvolvimento socio-económico do Concelho.

Passados dois anos, que reflexão faz acerca deste tema e o que poderão os investidores esperar?

A CM Beja está a tentar junto do Governo antecipar o prazo das obras estruturantes em termos de rodovia e ferrovia que servem Beja.

Quer a A26, quer a eletrificação da linha férrea Beja-Casa Branca estão previstos no PNI 2030. Os prazos de conclusão indicativos são 2028 para a A26 e 2025 para a eletrificação da linha ferroviária. Se por um lado é bom que estas obras estejam no PNI 2030, interessa ter os projetos prontos quanto antes para que, assim que o novo quadro comunitário entre em execução estas obras possam desde logo avançar e, com isso, possam ter prazos de conclusão anteriores aos estimados;   

Em questões de urbanismo e habitação, o Concelho luta neste momento com alguns constrangimentos, decorrentes da falta de oferta, nomeadamente habitação para arrendamento a jovens e pessoas deslocadas profissionalmente.

Pode falar-nos acerca da perspectiva da Câmara Municipal para tentar colmatar este problema?

Por outro lado, existem algumas directivas relativamente ao Centro Histórico, que aloja muitos edifícios devolutos, uns de grande porte e outros de dimensões mais reduzidas, mas que recuperados, poderiam resolver uma parte do problema?

Nós estamos a recuperar um primeiro prédio no Centro Histórico (propriedade da CM Beja) e estamos a finalizar o projeto de mais outro, na mesma zona, para que sejam habitados por jovens ao abrigo de regulamento municipal já aprovado e com uma renda cerca de 20% abaixo do valor de mercado. Pretendemos dinamizar através de moradores. Julgamos que são os residentes a chave do impulso em qualquer lugar para eventualmente alavancar atividades complementares nas zonas. Também no Centro Histórico, cedemos uma habitação de grande dimensão ao Instituto Politécnico, em regime de comodato, no sentido do Instituto aí poder instalar estudantes da instituição.

Apostamos nos residentes e apostamos nos jovens para tentar inverter esta tendência de abandono dos Centros Históricos das cidades, nomeadamente da nossa. Estamos também a ultimar a “Estratégia Local de Habitação” de Beja que irá estabelecer soluções técnicas para determinadas ruas muito degradadas do Centro Histórico de Beja.         

 

 – Beja é uma cidade com um património histórico e cultural de grande valor, a par do património imaterial que é o cante, ou da gastronomia, vinhos e doçaria entre outros.

A Autarquia tem levado a cabo inúmeras actividades e eventos no sentido de promover o que temos de bom. Um sucesso as duas edições do Festival B que trouxeram imensos visitantes.

Quer falar-nos um pouco da vasta oferta cultural que Beja vive no momento, direcionada a vários gostos e atitudes de vida?

Procuramos ter uma oferta cultural diversificada. Desde logo no Pax-Júlia. O teatro municipal da cidade com capacidade para 618 espetadores. Mas também na Biblioteca, no Centro Unesco e na Casa da Cultura temos espetáculos e conferências de muita qualidade com regularidade.

Eventos como o Festival B, a Feira “Patrimónios do Sul”, a BejaRomana, o “É Natal em Beja”, o 25 de abril, entre outros, completam o rol de eventos culturais que tornam Beja num concelho fantástico nessa matéria.

As freguesias acrescentam muita qualidade cultural ao concelho com a promoção de recursos endógenos (Festival da Silarca da Cabeça Gorda, por exemplo) ou de artes e ofícios tradicionais (Festival Sabores no Barro de Beringel, por exemplo)         

 

 – Beja é uma cidade produtora de talentos, tantos deles de renome.

Considera que a alma deste povo que pensa, que faz, que tem qualidade, que luta pelos seus sonhos e ideiais, poderá estar relacionada com interioridade geográfica, que directa e indirectamente, conduz a uma profundidade interior?

 Realmente o que fazemos/produzimos tem muita qualidade. Seja em termos artísticos, seja em termos gastronómicos, seja noutros aspetos. Julgo que isso deve orgulhar-nos e orgulhar-nos muito. O motivo dessa superior qualidade que apresentamos, não o conheço especificamente. Mas é óptimo que sejamos associados a coisas boas, ao “saber fazer”. Essa é melhor forma de promoção que podemos ter para o nosso território.   

 

Falámos já da componente socio-económica, habitacional e cultural.

Em termos de apoios sociais, o que é que o Presidente da Câmara enfatiza, como importante para a população residente e para quem queira vir para cá residir?

Os apoios sociais existentes no concelho são os que estão devidamente regulamentados em termos municipais. 

Neste aspeto sublinho que estamos a dar uma particular atenção à matéria da acessibilidade. Tornar o concelho tão acessível quanto possível a todos. Criar percursos acessíveis, dotar os edifícios públicos de acessos para todos, etc. Criar numa primeira fase um Centro Histórico acessível numa primeira fase, depois o restante concelho progressivamente.

Esta é uma matéria de inclusão e de igualdade de oportunidades administrativas, culturais e sociais entre todos. Esta transformação das cidades é lenta. Demora décadas. Mas pensamos que devemos dar passos fortes na concretização plena de estruturar localidades onde qualquer pessoa possa circular facilmente.  

     

A oferta formativa no Concelho encontra-se novamente numa fase crescente em termos de ensino superior, pela mão do Instituto Politécnico de Beja, que está a fazer um excelente trabalho quer na componente lectiva, quer na investigação.

Existe uma colaboração entre a Câmara Municipal e o IPB no sentido de conjugar esforços, por forma a potenciar o desenvolvimento de alguns quadrantes?

Existe uma forte colaboração entre o IP Beja e a CM Beja.

Existe na cedência de espaços da CM Beja ao IP Beja para alojamento de alunos, por exemplo:

Existe no CEBAL, por exemplo;

Existe na Universidade Sénior, por exemplo;

Existe no projeto U-Bike, por exemplo;

Existe em termos de parceria na tentativa de captação de projetos tecnológicos de grande dimensão para o concelho, por exemplo;

A CM Beja e o IP Beja estão perfeitamente sintonizados e com isso é a região que tem a ganhar, para além de ser um forte sinal de confiança que também transmitimos aos investidores que queiram vir estabelecer-se em Beja;

       

Por fim, a pergunta da praxe: Aeroporto de Beja.

Qual o seu comentário, passados que foram dois anos de negociações, lutas, alegrias e tristezas?

O Aeroporto de Beja irá começar a ser aquilo que sempre esteve previsto ser mas que não havia meio de se conseguir: afirmar-se como uma das principais plataformas nacionais de reparação e manutenção de aeronaves;

Complementarmente pode ter outras valências, como sejam o tráfego aéreo de passageiros seja através de voos regulares, charters ou jatos privados.

Porém a vertente industrial do equipamento será certamente aquela que mais emprego criará em Beja nos próximos anos, aquela em que a estrutura mais conseguirá desenvolver-se, em que mais riqueza deixará no território e mais útil pode vir a ser. E isso é excelente.   

Vale a pena trabalhar pelo Aeroporto de Beja. A minha primeira reunião de trabalho enquanto Presidente de Câmara, em outubro de 2017, foi precisamente com a HIFly e a MESA. Passados perto de dois anos e meio sobre essa reunião, é um gosto ver aquele enorme hangar a crescer e saber que tudo começou naquele dia, sentados à mesa do salão nobre da Câmara Municipal.

Aquele foi o dia em que o Aeroporto de Beja efetivamente começou a descolar.  E irá ter um futuro muito mas muito risonho.         

 

“Alentejo … um abraço que nos une, um sorriso que ilumina, um sonho a realizar …”.

Sim, ou não?

Sim. Sempre.


Porquê?


Porque qualquer território está sempre incompleto. Há sempre mais a fazer, mais a realizar, mais para intervir; É isso que torna também a vida tão fantástica. É isso que nos motiva em cada dia de trabalho; Que podemos estar um passo mais perto de realizar essa tal sonho, sempre incompleto. 

Já agora… prefiro que se fale num Baixo-Alentejo com a capital em Beja. Sempre foi isso que defendi e defenderei quando a regionalização se voltar a colocar em debate.  

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

A palavra a Filipe Pombeiro

 


 – Beja é uma cidade com características muito próprias, que ao nível empresarial, quer ao nível social e laboral. Enquanto Presidente do NERBE, qual a análise que faz do tecido empresarial da região?

O tecido empresarial regional é constituído na sua grande maioria por pequenas empresas, como aliás é característica do tecido empresarial do País. Ainda assim, nos últimos anos temos assistido a um crescimento sustentado de muitas empresas, em especial no setor agrícola e agroalimentar.

Claro que a interioridade da região encerra algumas dificuldades em especial para setores mais tradicionais, mas de uma forma geral assistimos a uma melhoria na competitividade das nossas empresas nos últimos anos.

 – Possuindo a região de Beja condições únicas em termos de localização e potencial de crescimento, quais são na sua opinião os principais handicaps que têm, ao longo do tempo, impedido o crescimento e o desenvolvimento regional?

É uma resposta complexa, já que, são vários os fatores que historicamente contribuíram para o atraso da região em termos da sua economia. Conforme sabemos passámos por um período complicado em termos políticos e económicos que estrangulou a economia regional, o que nos obrigou a um esforço muito grande para fortalecemos as nossas empresas para competir com as demais.

Felizmente Alqueva, veio alavancar o crescimento do Agronegócio e este trouxe efeitos de contágio muito positivos para a economia regional.

Neste momento os principais constrangimentos para ser possível aproveitar a nossa condição geoestratégica são a falta de acessibilidades e concreto a eletrificação e modernização da ligação ferroviária do Alentejo até à Funcheira e a conclusão do IP8/A26.

Estes importantes investimentos permitirão servir a região e serão um importante impulso para o maior aproveitamento do Aeroporto de Beja e, deveria ser o alvo principal em termos de investimento público na região.

 – Vivemos tempos em que o paradigma está a mudar, e em que se impõe também uma certa mudança de mentalidades. A forma como o empresário olha para o seu negócio carece de evolução e adaptação. Considera que estão reunidas as condições e as ferramentas necessárias para que a mudança seja uma realidade?

É uma mudança que já sente na maioria das empresas. A nossa preocupação com a sustentabilidade nas suas mais diversas vertentes é hoje evidente. O empresário é hoje atento, procura novos mercados e sobretudo tem um cuidado muito grande em reter os seus maiores ativos, que são os seus colaboradores porque são estes que fazem a diferença no crescimentos e diferenciação das empresas.

 – Se um empresário/investidor de outra região ou de outro país quiser investir em Beja, ou na região de Beja, quais são, na sua óptica os principais items com os quais deverá preocupar-se antes de se fixar?

Antes de mais penso que se deverá dirigir a uma associação empresarial, como a nossa ou como outras que estão no território porque são centros de informação atual e privilegiada e poderão encaminhar o negócio desde o primeiro dia.

Questões como a localização, a necessidade de recursos humanos, fontes de financiamento, legislação e licenciamento necessário, serão fundamentais para o arranque do negócio.

 – E manifesta a urgência e a importância de um investimento estrutural na região, que possibilite a fixação de empresas e pessoas. Independentemente dessa necessidade, tem existido um investimento crescente, não só na agricultura, mas noutras áreas. Sabemos que existem neste momento investidores diversos a estudar a possibilidade de empreender em Beja. Qual a alavanca que falta, para que possamos ter essa realidade?

O Alentejo é seguramente uma das áreas do País em que mais investimento privado tem sido feito nos últimos anos e, nesse sentido estamos no bom caminho ainda que o investimento público para resolver os constrangimentos referidos tenha de se concretizar para libertar a tal alavanca que refere.

De resto, existem uma série de investimentos previstos, nas áreas da saúde, das energias renováveis, aeronáuticas, entre outras, que seguramente num futuro próximo trarão maior progresso à região.

 – “Alentejo … um abraço que nos une, um sorriso que ilumina, um sonho a realizar …” – Sim ou não?

Claro que sim! É algo que não se consegue explicar, os que cá ficámos batalhamos arduamente para que o sonho que concretize, os que não ficaram mas que deixaram cá os seus corações quando regressam percebem as diferenças mas todos ficamos com a sensação que custa mais, demora mais, mas acabaremos por lá chegar. E quando chegarmos marcamos como sempre a diferença!

 

Alentejo ...porque o horizonte é infinito .... Entrevista Filipe Campêlo

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