Márcio Guerra é um nome que imediatamente relacionamos com
empreendedorismo social, inovação e pensamento "fora da caixa".
Profundamente comprometido com causas sociais, é acérrimo defensor dos
direitos humanos, e a maior parte da sua actividade tem como base as
pessoas e suas condições de vida. Uma entrevista que nos faz pensar e
reflectir, e que de alguma forma, inspira algo daquilo que é a obrigação
social de todos e cada um de nós, enquanto cidadãos e enquanto
empreendedores. Para Márcio Guerra, o Baixo Alentejo também vale a pena!
Obrigado por esta conversa tão interessante!
1 - Criar e maximizar valor social é o principal objectivo do empreendedorismo social. Atendendo à realidade da nossa região, que transformações urgentes e prioritárias considera serem passíveis de implementação, numa óptica de interação e simbiose com outras vertentes do empreendedorismo (corporativo e start-ups), no sentido do desenvolvimento sustentável?
Partindo do conceito de que o
empreendedor social redesenha relações entre comunidade, governo e setor privado, com base no modelo de
parcerias e que o resultado final desejado é sempre a promoção da qualidade de
vida social, cultural, económica e ambiental sob a ótica da sustentabilidade
dos territórios, eu diria que o empreendedor social pode desempenhar um papel
fundamental na criação de um ecossistema com preocupações sociais através da
sua relação com empreendedores corporativos e empreendedores de “start – ups”
sensibilizando-os para modelos de negócio sustentáveis, amigos do ambiente e do
“homem”.
As relações entre comunidade, governo e
setor privado não significa que haja uma retirada do estado no que à economia e
definição de políticas públicas diz respeito, ou seja a fragilidade das
respostas públicas até pode fazer com que a sociedade civil se organize e crie
associações com respostas inovadoras, mas a verdade é que deve ser o estado
(governo e autarquias) a garantir determinados serviços e investimentos
públicos fundamentais para o desenvolvimento das regiões e do país, procurando
estimular um espirito empreendedor em que a lógica de parceria múltipla, possa
fomentar uma maior participação de empresas privadas, como forma mais reprodutiva
de utilizar recursos.
Aliás o pensamento de que menos estado,
nos leva a melhor estado e a abordagem da inovação social que aparece sempre em
períodos de pós-crise social restringindo-se à procura de respostas para
questões sociais novas quando na realidade se vive uma harmonização social no
retrocesso e se transporta o conceito de inovação social para noções de
subsistência deve-nos alertar para este perigo. O que acontece com a destruição
do Estado Social é que se despojam as pessoas dos seus direitos de cidadania num
quadro em que são colocadas em situações de carência extrema, e assim a inovação
não pode ser senão uma inovação regressiva, construída a partir de bases
sociais de desigualdade, injustiça e exclusão. Quando se permite que a
sociedade "propositadamente empobreça” e depois se arranja maneira de
colmatar essas carências, estão-se a matar as verdadeiras condições para
inovar, porque a inovação social que é precisa é a inerente à cidadania social,
é a das pessoas portadoras de direitos e responsabilidades e que sejam
estimuladas a libertar o seu espirito criativo e empreendedor.
Assim o que é necessário para que haja
verdadeiramente inovação e ocorram as transformações na nossa região é a de que
esta relação e trabalho em rede resulte em parcerias entre o sector público e
privado de forma a ultrapassar em
conjunto os vários desafios que temos na nossa região em virtude de um
crescimento que nos vai mostrando que, se não se colocar a pessoa no centro da
intervenção ao invés da economia, vão surgir desigualdades sociais.
Sabemos que, em muitas situações, há
efetiva necessidade de aumentar a produção, de crescer; mas não é qualquer
crescimento, nem o crescimento em qualquer parte, ou a qualquer preço, que gera
desenvolvimento.
Assim e não descurando o importante
impacto que Alqueva teve no Baixo Alentejo particularmente em termos
económicos, contudo, o modelo associado ao desenvolvimento do projeto estimulou
a concentração da propriedade; aumentou as preocupações ambientais e a
destruição do património cultural. Não promoveu o povoamento, não reduziu o
desemprego, sendo o trabalho feito com recurso a mão-de-obra barata de
imigrantes, e algumas vezes ilegais (só em 2017 foram mais de 10.000 imigrantes
nesta situação); e não dinamizou substancialmente as economias locais, a não
ser alguma empresa de fornecimento de serviços e equipamentos de regadio.
Este modelo coloca em evidência uma exploração
assente num crescimento económico
(em que as opções orientam-se para um crescimento elevado do PIB per capita),
gerando desigualdades sociais no território ao invés de um desenvolvimento sustentável da nossa região no plano humano,
ambiental e social
Assim o que é verdadeiramente necessário
é a inovação numa agricultura inclusiva
diversificada, amiga do ambiente e do património arqueológico, em que o
sector privado da agricultura assuma a sua parte na criação de um modelo económico
verdadeiramente orientado para o desenvolvimento regional e para a coesão
social e territorial. Que invista na responsabilidade social e através de
parcerias públicas e privadas possam criar condições para combater a imigração
ilegal e clandestina, apoiando na constituição de gabinetes de atendimento e
acompanhamento ao imigrante que possam dar formação a estas pessoas na língua
portuguesa, na nossa cultura, direitos e legislação, combatendo desta forma o
tráfico e a rede ilegal de mão-de-obra. Que invista em projetos que preservem o
património arqueológico e promovam roteiros turísticos para a sua visita e para
a observação da apanha da azeitona e da transformação do azeite. Projetos de
sensibilização ambiental e de capacitação dos seus colaboradores com vista á
implementação de boas práticas.
O que é verdadeiramente necessário é a inovação num turismo diferenciador,
inclusivo e acessível a pessoas com mobilidade reduzida parcial ou total,
de acesso a pessoas invisuais ou com problemas de surdez. Se é verdade que em
2017 o Alentejo recebeu a visita de 65. 388 Turistas representando um aumento
de 11% comparativamente ao ano de 2016, não é menos verdade de que mais de mil
milhões de pessoas no mundo vivem com algum tipo de incapacidade, dos quais cerca
de 200 milhões experiencia dificuldades notáveis em termos de funcionamento. Nos próximos anos, a deficiência e a incapacidade serão uma preocupação ainda maior pois a
sua prevalência está a aumentar, devido ao envelhecimento da população e ao
maior risco de incapacidade na população sénior, bem como ao aumento global das
doenças crónicas. Em Portugal, em 2011, aproximadamente 40,5% das pessoas entre
os 15 e os 64 anos tinham pelo menos um problema de saúde ou doença prolongados
e 17,4% tinham pelo menos uma dificuldade na realização de atividades básicas
(INE, 2011).
Para pensar nestas e noutras
transformações para o nosso território é necessária a criação de um ecossistema de empreendedores no Baixo Alentejo com
preocupações no plano do desenvolvimento sustentável.
Portugal tem hoje um dos mais vibrantes
ecossistemas de empreendedorismo da Europa mas será que o Alentejo e o Baixo
Alentejo em particular, à sua dimensão pode também entrar num roteiro
empreendedor nacional ou internacional, apanhando a “boleia” deste bom momento
nacional e ser diferenciador na forma como o dinamiza?
O que temos de fazer ao nível das
políticas locais e regionais, das estruturas de apoio, do financiamento, da
cultura empreendedora e do capital humano para que tenhamos um ecossistema mais
vibrante e humanista? Quais são os principais desafios e que passos devemos
dar?
Estas são perguntas e desafios que
passam naturalmente por criar um ecossistema de empreendedores. Um movimento
social diversificado que congregue paixão, conhecimento, iniciativa, resiliência
e transformação, que crie valor e promove a autorrealização do individuo,
oferecendo a resposta a muitos problemas societais e/ou supre simplesmente
necessidades de mercado.
Devemos ter sempre presente de que pela
sua própria natureza, o Homem tem necessidade vital de se relacionar com o
outro, de criar laços de cooperação e de entreajuda, de desenvolver projetos
comunitários, de trocar experiências, de viver e de conviver com as pessoas que
vivem junto de si ou nas suas proximidades. Sempre assim foi e sempre assim
será
Falar
sobre o papel das associações hoje em dia, é termos a consciência de que alguns dos direitos
consagrados na Constituição da República emanam deste importante movimento
social, uma vez que o mesmo está intimamente ligado às principais transformações
sociais, e política, verificadas com o advento do liberalismo, das ideias
propagadas pela Revolução Francesa e pelo surgimento da Revolução Industrial.
De forma natural e dado que o
Associativismo é uma emanação da sociedade é óbvio que a evolução da mesma
“obriga” a ajustamento e ao aparecimento de novas formas, foi o que aconteceu
com o 25 de Abril de 1974, pelo que e de acordo com a Confederação Portuguesa
das colectividades de cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD): “Cerca de metade das associações que hoje
temos em Portugal decorrem do 25 de Abril de 1974, a par do substancial aumento
do número de associações, mais dois factos se verificaram: as coletividades
mais “clássicas” diversificaram em muito as suas atividades e por outro lado,
emergiram ou reforçaram-se outros tipos de associativismo: de defesa
(património, consumidores, à vítima, etc.); movimento de moradores; juvenil e
estudantes; ambiente e ecologia; de pais e da família, pessoa com deficiência
etc. Mais tarde, na década de oitenta do século XX: as IPSS (Instituições
Particulares de Solidariedade Social) e ADL (Associações de Desenvolvimento
Local).”
Se no passado o associativismo teve o
seu “berço” na Revolução Industrial,
hoje estamos na Era da Informação e do
Conhecimento pelo que é fundamental que se coloque este vasto património ao
serviço da sociedade atual, dai que a
importância de exercer um papel ativo enquanto dirigente associativo é
fundamental tanto mais que ainda é nas associações que os jovens de hoje
podem exprimir a solidariedade, experimentar novas respostas, agirem como fator
de transformação e inovação social ao elaborar e concretizar um projeto comum
de carácter coletivo e de raiz social. Valorizarem-se enquanto pessoas através
do trabalho voluntário e benévolo como pilar estruturante da economia social,
assumindo o exercício da democracia conduzindo a uma efetiva cidadania.
Em
suma participar no associativismo é ter uma vida autenticamente humana, uma
vida verdadeiramente feliz.
Qual
é a percentagem de participação dos jovens nestas entidades e quais são as suas
principais preocupações?
No
concelho de Beja existem cerca de 300 associações equiparadas a coletividades de cultura,
recreio e desporto, instituições particulares de solidariedade social, associações
juvenis, estudantis, ambientais e de defesa do património, entre outras
denominações, que têm um importante papel na dinamização de um conjunto de
iniciativas e projetos nas mais diferentes áreas de atuação, quer ao nível, educacional,
cultural, desportivo, social e ambiental.
De uma forma geral a missão passa em primeiro lugar por um
importante contributo na prestação de serviços aos seus associados e à
comunidade de uma forma geral no acesso à cultura, à atividade física, ao
recreio e ocupação dos tempos livres de centenas de crianças. Por outro lado
procuram contribuir de forma consensual, para o debate na esfera pública,
trazendo contributos para a deliberação de políticas públicas importantes para
o nosso concelho.
Se não há dúvida que este movimento que atua
no chamado terceiro sector tem auferido uma maior visibilidade na sociedade
portuguesa e no nosso distrito em particular, também não é menos verdade que
esse protagonismo (seja junto do Estado, da sociedade civil, ou ainda dos meios
de comunicação social) parece recair sobretudo sobre a ação das IPSS’s e de
outras Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD).
Este fator prende-se pelo facto de vivemos
num distrito e num concelho em que a maioria da população é envelhecida e dai
que as associações e instituições de cariz social tenham um peso relevante na
nossa comunidade. Reflexo desta realidade é o facto de só na Rede Social do
Concelho de Beja, estarem representadas mais de uma centena de entidades e
associações que trabalham sobretudo neste sector possuindo uma grande
importância ao nível da provisão de serviços sociais através do estabelecimento
de acordos de gestão e de cooperação com o Instituto da Segurança Social.
As
dificuldades com que
este importante movimento social se depara são diversas porque estamos a falar
de um movimento associativo que por um lado é composto na sua maioria por
trabalhadores por conta de outrem e que após o seu trabalho se dedicam de forma
voluntária aos objetivos da sua associação o que nem sempre garante
estabilidade na ação, por outro lado estamos perante uma vasta rede de
intervenção cívica nas diversas vertentes, em especial nos domínios cultural, desportivo,
recreativo e social que presta um verdadeiro serviço público. Muito
simplesmente, se não forem as associações a fazer o trabalho que fazem – isto
é, a desempenhar as funções sociais que desempenham – quem o fará? E caso esse
trabalho não seja feito, que consequências acarretará essa situação em termos
sociais?
Assim e pela minha experiência enquanto
dirigente associativo apontaria seis (6) grandes preocupações, entre outras que
haverá, sobre as dificuldades que este movimento sente:
1
- O necessário e devido
reconhecimento por parte do governo e dos poderes públicos da importância
social do associativismo nomeadamente quanto às políticas de apoio para a construção de infraestruturas e aquisição de
equipamentos. 2 – Não existem
mecanismos adequados de incentivo ao dirigismo associativo popular,
nomeadamente um Estatuto Social do
Dirigente, que alargue o recrutamento e permita a necessária renovação das
lideranças nas associações. 3 –
Constata-se a falta de oferta de programas
de formação adequados às necessidades de qualificação de recursos humanos
destas estruturas. 4 – Existe um défice de comunicação das associações
com os seus públicos interno (associados, atletas, colaboradores e demais
intervenientes internos) e externo (população em geral). 5 – No plano autárquico, faz
falta um Gabinete de Apoio ao Movimento Associativo (GAMA) que trabalhe e
articule com os dirigentes associativos do concelho, com o IPDJ e outras
entidades na definição de uma estratégia de atuação municipal nesta área. 6 – Promoção de uma rede formal, que promova conhecimentos, partilha de
experiências e boas práticas deste importante movimento um pouco por todo o
concelho e região, que possa em conjunto trabalhar possíveis fundos
comunitários com particular enfoque para as questões do empreendedorismo social
e da economia social e solidária.
Sobre
a participação dos jovens
neste movimento e apesar de Portugal dispor de uma legislação própria que
enquadra o movimento associativo juvenil através da Lei n.º 23/2006, de 23 de
Junho, estabelecendo o regime jurídico do associativismo, esta participação
apresenta assimetrias no quadro da região Alentejo.
No plano nacional e à data de dezembro
de 2017 estavam inscritas em Portugal Continental cerca de 1434 associações no RNAJ, sendo que no distrito de Portalegre este número é de 17 associações juvenis ou equiparadas,
no distrito de Évora são 41
associações juvenis ou equiparadas e no distrito de Beja são 6 associações juvenis ou equiparadas.
Os números demonstram que no quadro da
legislação em vigor e do RNAJ, o distrito de Beja apresenta um número muito
baixo quando comparado com os distritos de Évora e Portalegre, contudo e apesar
de não acreditar que os números possam aumentar significativamente, o mesmo não
corresponde à realidade do associativismo juvenil, uma vez que muitas
associações têm na sua composição jovens, com uma efetiva participação mas que
por não cumprirem os critérios do artigo 3.º da lei n.º 23/2006, de 23 de
Junho, que estabelece o regime jurídico do associativismo não são consideradas
associações juvenis.
Quanto
às preocupações dos jovens manifestadas
neste movimento eu dividia em dois aspetos. O primeiro tem a ver com o motivo
que os leva a formar uma associação, e nesse sentido muitas vezes falamos de questões
associadas a gostos pessoais pela dança, cante alentejano, desporto, etc. O
segundo aspeto prende-se com a mudança das preocupações e prioridades
resultante da sua participação enquanto dirigente associativo ou associado na
associação. Nesse plano as preocupações que os levaram a constituir a
associação alteram e passam a assumir outras preocupações que se prendem em
muitos dos casos com o seu futuro, em ser solidário, a querer participar na
vida política da sua comunidade e país, em preservar o ambiente. Começa a haver
um despertar de consciência social e cívica com indignação perante injustiças
sociais nomeadamente a fome, a pobreza e a exclusão social e a despertá-los para
a edificação do bem comum.
Na minha opinião e no que ao empreendedorismo social diz respeito a
escala per si não é um valor relevante. Arquimedes disse um dia “Dêem-me um ponto de apoio e eu levanto a
Terra”. O que pretendo dizer é que da aprendizagem de um projeto com
potencial de empreendedorismo social, como por exemplo o Fit Salvador e os Heróis da Agua do concelho de Beja, a Vida Vale do concelho de Odemira, a Estratégia para o Desenvolvimento e
Promoção da Fileira dos Recursos Micológicos no Baixo Alentejo de Mértola
ou os Núcleos de Voluntariado de
Proximidade da Fundação Eugénio de Almeida de Évora, podemos desenhar
outros projetos, evitar erros futuros, replicar o modelo noutras zonas do país
ou mesmo fora dele. O que importa é a qualidade, o método, a organização, os
processos de trabalho, os resultados junto das pessoas e o impacto que têm na
sociedade do ponto de vista social. Depois de tudo isto vem a escala dos
projetos.
O progresso do empreendedorismo social
em Portugal, nos últimos anos, tem sido de facto muito relevante, com alguns projetos
no Alentejo e no distrito Beja particularmente que estão consideradas como
iniciativas ES+, que mudaram a vida de muitas pessoas.
Muhammad Yunus, empreendedor social e
prémio nobel da Paz dizia que “Todo mundo
nasce empreendedor. Alguns tem a chance de libertar essa potencial. Outros
nunca vão ter a chance ou nunca souberam que tinham essa capacidade.” Julgo
que esta afirmação é o retrato do desafio maior que temos para reinventar o
Alentejo, investir no maior ativo de um território, na capacitação das pessoas
que aqui habitam para um Alentejo empreendedor.
Do ponto de vista técnico, se ensinarmos as pessoas a serem empreendedores ou o que é
o empreendedorismo social, podemos não saber se vamos criar empreendedores mas
sabemos que disponibilizámos para as pessoas um conjunto de ferramentas que lhes
permite passar dos sonhos para as acções. E isto leva à segunda faceta do
empreendedorismo: a pessoal. E esta
faceta tem que ver com três ideias chave: a capacidade de questionar, a
capacidade de sonhar e a vontade de fazer coisas. A capacidade de questionar leva
à análise e ao aparecimento de problemas. A existência de problemas estimula a
criatividade e leva ao desenvolvimento de ideias passíveis de se constituírem
como soluções para os mesmos. A existência de soluções desencadeia motivação
para as implementar.
Assim algumas das barreiras que deverão ser quebradas passam por dar o acesso a
estudos e investigações já realizadas, nas mais variadas áreas de atividade, estreitando
o percurso para conhecer a realidade do empreendedorismo social em Portugal e
na região, de forma a potenciar a criação de soluções no momento certo, no
lugar certo, para a pessoa certa. A falta de recursos é uma das principais razões
com a qual os empreendedores se deparam, o que leva a um processo mais moroso
para o desenvolvimento do empreendedorismo social, impedindo o progresso de
determinados projetos, oportunidades de negócio, iniciativas, que podem servir para
combater o desemprego, o abandono escolar precoce, o suicídio, a iliteracia, ou
a exclusão social de pessoas com deficiência, entre tantos outros problemas.
Outro aspeto vai para além de empenho e
dedicação que os empreendedores sociais demonstram, estes precisam de ser
escutados, apoiados, para conseguirem atingir os seus objetivos bem como o
restrito e complexo sistema de apoios comunitários que inviabiliza
oportunidades de negócio, com potencial de sucesso.
Apesar de haver uma certa resistência à
mudança da parte das pessoas ainda assim julgo que o peso maior tem a ver com o
facto de persistirem algumas debilidades, apesar dos investimentos
comunitários. Falo de constrangimentos relacionados com a regressão prolongada
da demografia regional, o reduzido dinamismo do tecido empresarial, as
limitações acentuadas nos sistemas e redes com potencial para atrair novos
fluxos de investimento e a sustentabilidade problemática da mais-valia
ambiental que não alavancam o desenvolvimento do potencial que temos e nesse
particular os sucessivos governos não têm olhado para o interior de Portugal e
para o nosso Alentejo da forma como deveriam olhar, com o respeito e igualdade
de oportunidades que permitam re-inventar esta região, de forma a tentar
minimizar o flagelo da desertificação que está a abranger todo o Alentejo.
Se
lhe fossem concedidos 5 min de tempo de antena na televisão, que mensagem gostaria
que transmitir que elucide com clareza o potencial de desenvolvimento da
região, e a importância da conjugação de esforços nesse sentido, por forma a
atraír e fixar investimento que traga mais-valias à região?
O Alentejo é uma região atrativa num contexto
de afirmação de Portugal como fronteira atlântica da Europa e do "hinterland"
ibérico, em particular.
A sua proximidade com Lisboa e com o
Algarve, toda a orla marítima e as relações de vizinhança com a Espanha, em particular
com a Extremadura e a Andaluzia, colocam o Alentejo numa posição privilegiada
em termos empresariais, num quadro de articulação nacional e transnacional.
Somos uma região que conta com cinco
selos da UNESCO em vários patrimónios imateriais e materiais e que tem
potencialidades por valorizar, desde a junção de terra/mar, existe também uma
diversidade de encantos históricos, naturais e gastronomia e vinhos, que fazem
desta região única.
Tal como uma página em branco de um
livro, nesta imensa planície falta escrever a sua parte, seja construtor da
nossa história e invista nos encantos do Alentejo.
Entrevista publicada na Revista Hall Paxis - Imobinvest 2018 - "Alentejo, Um Território Para Investir"
Entrevista publicada na Revista Hall Paxis - Imobinvest 2018 - "Alentejo, Um Território Para Investir"
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