– Faz dois anos que tivemos o privilégio de contar com a entrevista do Sr.Presidente na nossa revista Imobinvest, privilégio esse que nos é concedido de novo e que desde já agradecemos.
Dois anos e uns meses é também o
espaço temporal deste mandato que vai a meio, e em que algumas alterações se
verificaram no Concelho.
Do ponto de vista económico quer
salientar os aspectos mais importantes que directa ou indirectamente poderão
estar ligados a alguma forma de progressão entretanto verificada?
Salientamos que na Zona de
Acolhimento Empresarial Norte se está em fase de infraestruturação dos lotes, e
que já se avançou para uma segunda fase (com empreitada de infraestruturação
ainda por lançar), permitindo a instalação de mais de duas dezenas de unidades
industriais e comerciais em Beja. Temos também alienado lotes industriais
noutras zonas da cidade de Beja para atividades especificas (Ex: Hospital
Particular; Hospital Veterinário, etc.)
– O Município possui um
gabinete específico para acolhimento e estudo de novos projectos a implementar
por particulares no nosso território.
Qual é o feed-back que lhe é dado
por parte desses investidores quanto à viabilidade de poderem instalar-se no
Concelho?
Surgem projetos de várias caraterísticas no Gabinete de Apoio ao Investidor (GAI) da CM Beja. A maioria dos quais na área agrícola. Feita a análise dos mesmo, constata-se que alguns têm bases sólidas para prosseguir e que outros ainda precisam de ser trabalhados para poderem instalar-se na área do Concelho;
– Sabemos que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que toda tramitação processual e burocrática relativa à instalação de uma empresa, seja ela qual for, demora algum tempo. Por outro lado temos conhecimento de que existem em curso alguns projectos interessantes a aguardar finalização.
Quer falar-nos sobre este
aspecto?
A tramitação para abertura de uma
empresa pode ser longa e morosa até à sua instalação. Desde logo porque é
necessário – no caso dos lotes vendidos pela CM Beja – aguardar pela
infraestruturação dos mesmos. Muitas
vezes as empresas também procuram financiamento para a implementação das suas
ideias.
Em Beja neste momento de unidades
novas que se podem prever, temos por exemplo uma fábrica de massas frescas e
uma fábrica de cerveja em perspetiva. Isto no que concerne ao setor
secundário.
– Encontrando-se o Concelho
numa região essencialmente agrícola, lógico seria que existissem mais unidades
agro-industriais, além das adegas e dos lagares.
Qual é na sua opinião o motivo
pelo qual essas unidades não têm optado por Beja?
Estão a começar a optar. A Vila
Galé terá até ao inicio do verão já uma unidade com essas caraterísticas em
pleno funcionamento, dedicada à transformação das frutas da unidade em
compotas, em produção de fruta desidratada e em embalamento de fruta.
Mais unidades deste tipo virão
necessariamente para a região no futuro próximo. Creio que se está a ganhar a
noção que é uma mais-valia transformar perto do lugar de produção. E depois da
transformação agrícola do território que se deu por via de Alqueva, esse será o
próximo passo a concretizar-se. Estabelecer no território as PME criadoras de
emprego.
– O Concelho de Beja goza de
uma localização geográfica privilegiada, que, sendo potenciada, permite que
faça parte de um eixo norte-sul e este-oeste de bastante importância.
Sabemos que o Município tem
insistido com a Administração Central no sentido de melhorar as
acessibilidades, determinantes para o desenvolvimento socio-económico do
Concelho.
Passados dois anos, que reflexão
faz acerca deste tema e o que poderão os investidores esperar?
A CM Beja está a tentar junto do
Governo antecipar o prazo das obras estruturantes em termos de rodovia e
ferrovia que servem Beja.
Quer a A26, quer a eletrificação
da linha férrea Beja-Casa Branca estão previstos no PNI 2030. Os prazos de
conclusão indicativos são 2028 para a A26 e 2025 para a eletrificação da linha
ferroviária. Se por um lado é bom que estas obras estejam no PNI 2030,
interessa ter os projetos prontos quanto antes para que, assim que o novo
quadro comunitário entre em execução estas obras possam desde logo avançar e,
com isso, possam ter prazos de conclusão anteriores aos estimados;
– Em questões de urbanismo e
habitação, o Concelho luta neste momento com alguns constrangimentos,
decorrentes da falta de oferta, nomeadamente habitação para arrendamento a
jovens e pessoas deslocadas profissionalmente.
Pode falar-nos acerca da
perspectiva da Câmara Municipal para tentar colmatar este problema?
Por outro lado, existem algumas
directivas relativamente ao Centro Histórico, que aloja muitos edifícios
devolutos, uns de grande porte e outros de dimensões mais reduzidas, mas que
recuperados, poderiam resolver uma parte do problema?
Nós estamos a recuperar um
primeiro prédio no Centro Histórico (propriedade da CM Beja) e estamos a
finalizar o projeto de mais outro, na mesma zona, para que sejam habitados por
jovens ao abrigo de regulamento municipal já aprovado e com uma renda cerca de
20% abaixo do valor de mercado. Pretendemos dinamizar através de moradores.
Julgamos que são os residentes a chave do impulso em qualquer lugar para
eventualmente alavancar atividades complementares nas zonas. Também no Centro Histórico,
cedemos uma habitação de grande dimensão ao Instituto Politécnico, em regime de
comodato, no sentido do Instituto aí poder instalar estudantes da instituição.
Apostamos nos residentes e
apostamos nos jovens para tentar inverter esta tendência de abandono dos
Centros Históricos das cidades, nomeadamente da nossa. Estamos também a ultimar
a “Estratégia Local de Habitação” de Beja que irá estabelecer soluções técnicas
para determinadas ruas muito degradadas do Centro Histórico de Beja.
– Beja é uma cidade com um património histórico e cultural de grande valor, a par do património imaterial que é o cante, ou da gastronomia, vinhos e doçaria entre outros.
A Autarquia tem levado a cabo
inúmeras actividades e eventos no sentido de promover o que temos de bom. Um
sucesso as duas edições do Festival B que trouxeram imensos visitantes.
Quer falar-nos um pouco da vasta
oferta cultural que Beja vive no momento, direcionada a vários gostos e
atitudes de vida?
Procuramos ter uma oferta
cultural diversificada. Desde logo no Pax-Júlia. O teatro municipal da cidade
com capacidade para 618 espetadores. Mas também na Biblioteca, no Centro Unesco
e na Casa da Cultura temos espetáculos e conferências de muita qualidade com
regularidade.
Eventos como o Festival B, a
Feira “Patrimónios do Sul”, a BejaRomana, o “É Natal em Beja”, o 25 de abril,
entre outros, completam o rol de eventos culturais que tornam Beja num concelho
fantástico nessa matéria.
As freguesias acrescentam muita
qualidade cultural ao concelho com a promoção de recursos endógenos (Festival
da Silarca da Cabeça Gorda, por exemplo) ou de artes e ofícios tradicionais
(Festival Sabores no Barro de Beringel, por exemplo)
– Beja é uma cidade produtora de talentos, tantos deles de renome.
Considera que a alma deste povo
que pensa, que faz, que tem qualidade, que luta pelos seus sonhos e ideiais,
poderá estar relacionada com interioridade geográfica, que directa e
indirectamente, conduz a uma profundidade interior?
– Falámos já da componente socio-económica,
habitacional e cultural.
Em termos de apoios sociais, o
que é que o Presidente da Câmara enfatiza, como importante para a população
residente e para quem queira vir para cá residir?
Os apoios sociais existentes no
concelho são os que estão devidamente regulamentados em termos municipais.
Neste aspeto sublinho que estamos
a dar uma particular atenção à matéria da acessibilidade. Tornar o concelho tão
acessível quanto possível a todos. Criar percursos acessíveis, dotar os
edifícios públicos de acessos para todos, etc. Criar numa primeira fase um
Centro Histórico acessível numa primeira fase, depois o restante concelho
progressivamente.
Esta é uma matéria de inclusão e
de igualdade de oportunidades administrativas, culturais e sociais entre todos.
Esta transformação das cidades é lenta. Demora décadas. Mas pensamos que
devemos dar passos fortes na concretização plena de estruturar localidades onde
qualquer pessoa possa circular facilmente.
– A oferta formativa no
Concelho encontra-se novamente numa fase crescente em termos de ensino
superior, pela mão do Instituto Politécnico de Beja, que está a fazer um
excelente trabalho quer na componente lectiva, quer na investigação.
Existe uma colaboração entre a
Câmara Municipal e o IPB no sentido de conjugar esforços, por forma a potenciar
o desenvolvimento de alguns quadrantes?
Existe uma forte colaboração
entre o IP Beja e a CM Beja.
Existe na cedência de espaços da
CM Beja ao IP Beja para alojamento de alunos, por exemplo:
Existe no CEBAL, por exemplo;
Existe na Universidade Sénior,
por exemplo;
Existe no projeto U-Bike, por
exemplo;
Existe em termos de parceria na
tentativa de captação de projetos tecnológicos de grande dimensão para o
concelho, por exemplo;
A CM Beja e o IP Beja estão
perfeitamente sintonizados e com isso é a região que tem a ganhar, para além de
ser um forte sinal de confiança que também transmitimos aos investidores que
queiram vir estabelecer-se em Beja;
– Por fim, a pergunta da
praxe: Aeroporto de Beja.
Qual o seu comentário, passados
que foram dois anos de negociações, lutas, alegrias e tristezas?
O Aeroporto de Beja irá começar a
ser aquilo que sempre esteve previsto ser mas que não havia meio de se
conseguir: afirmar-se como uma das principais plataformas nacionais de
reparação e manutenção de aeronaves;
Complementarmente pode ter outras
valências, como sejam o tráfego aéreo de passageiros seja através de voos
regulares, charters ou jatos privados.
Porém a vertente industrial do
equipamento será certamente aquela que mais emprego criará em Beja nos próximos
anos, aquela em que a estrutura mais conseguirá desenvolver-se, em que mais
riqueza deixará no território e mais útil pode vir a ser. E isso é excelente.
Vale a pena trabalhar pelo
Aeroporto de Beja. A minha primeira reunião de trabalho enquanto Presidente de
Câmara, em outubro de 2017, foi precisamente com a HIFly e a MESA. Passados
perto de dois anos e meio sobre essa reunião, é um gosto ver aquele enorme
hangar a crescer e saber que tudo começou naquele dia, sentados à mesa do salão
nobre da Câmara Municipal.
Aquele foi o dia em que o
Aeroporto de Beja efetivamente começou a descolar. E irá ter um futuro muito mas muito
risonho.
– “Alentejo … um abraço que
nos une, um sorriso que ilumina, um sonho a realizar …”.
Sim, ou não?
Sim. Sempre.
Porquê?
Porque qualquer território está
sempre incompleto. Há sempre mais a fazer, mais a realizar, mais para intervir;
É isso que torna também a vida tão fantástica. É isso que nos motiva em cada
dia de trabalho; Que podemos estar um passo mais perto de realizar essa tal
sonho, sempre incompleto.
Já agora… prefiro que se fale num
Baixo-Alentejo com a capital em Beja. Sempre foi isso que defendi e defenderei
quando a regionalização se voltar a colocar em debate.
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