segunda-feira, 31 de maio de 2021

As Cidades e o Território – Linhas para o Futuro

 

A Cidade Enquanto Peça de Relojoaria


Finalizamos com Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, o circulo de artigos e opiniões no âmbito do WebIGAP promovido pelo IGAP, intitulado “Cidade e Território na e pós Pandemia”, que contou como a presença da Hall Paxis enquanto assistente no debate e reflexão.

“Se a cidade é feita de pessoas, deverá ser igualmente feita para as pessoas, qual peça de relojoaria que se quer mimada e tratada com a atenção devida, sob pena de se perder o miolo e a alma de que é feita”. Para Rui Moreira, “assiste-se a uma matematização do comportamento das sociedades”, o que considera ser “muito preocupante”, especialmente no que concerne ao “impacto sociológico existente em todas as vertentes [da sociedade], decorrente da pandemia e que irá” inevitavelmente “acentuar as desigualdades, criando rupturas sociais”. Estreitando a linha, o presidente da Câmara Municipal do Porto, aponta “o empreendedorismo e o pequeno comércio” como os principais segmentos em causa, por serem aqueles “que menos recursos têm para fazer face ao gigantesco desafio do digital” e às dificuldades daí decorrentes, criando e acentuando hiatos nos critérios de competição e sustentabilidade destas empresas, se comparadas a organizações e empresas de maior dimensão e capacidade económica.

Para o autarca, “é necessário que a peça de relojoaria”, a cidade, “possa continuar a contar com o turismo”, enquanto sector de alavancagem económica, “mas com regras e equilíbrio”. Necessário será, pois, “cimentar a interacção cultural e defender a gastronomia, permitindo aos agentes económicos a possibilidade de concertação com um objectivo comum: o desenvolvimento e sustentabilidade das várias actividades, complementando-se entre si”, numa óptica de aliança, “entre o sector público e a iniciativa privada, para que comunguem na elaboração e zelo pela cidade”.

Nesta equação entrarão também as competências socias de munícipes e cidadãos, enquanto agentes de construção e usufruto “das cidades e dos espaços públicos”. Para Rui Moreira, “a segurança das cidades começa, precisamente, nos seus habitantes”, considerando que “a desertificação, os nichos de povoamento ou gentrificação, despoletam insegurança”. Para o actual presidente, “quantas mais pessoas existirem a circular nos vários pontos de uma cidade, mais segura ela será”, garantido que “serão essas mesmas pessoas quem irá zelar, respeitar e valorizar o Património que é também seu”.

No reverso da medalha, assistir-se-á, em cidades despovoadas e sem actividade, ao recolhimento dos seus cidadãos, “que se tornarão cada vez mais inactivos, desinteressados” e nãos complacentes com a interacção pública desejada, optando pelo “refúgio do scroll nas redes sociais e consequente desinformação”, potenciando o “perigo, a agressividade e o discurso de ódio assente no desconhecimento e inexistência de interacção com os demais”. Em última instância, afirma Rui Moreira, os habitantes destas cidades nada virão a ser para além de “pequenos casulos escudados e limitados em si próprios”, o que condicionará o desenvolvimento local e colocará em causa a existência de massa crítica tão necessária ao avanço e progresso. 

Como nota final, o autarca deixa como recomendação de leitura Decameron, de Boccaccio e 1984, de George Orwell, “livros bastante pertinentes e actuais”.


Texto: Maria Helena Palma/Rita Palma Nascimento

Foto: Maria Helena Palma

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